© joão leal

Built with Berta.me

  1. Detalhe da moldura || Frame Detail

    Detalhe da moldura || Frame Detail

    My Old Place

    “... (a fotografia) é sentida como uma evocação de um instante passado, num presente em que a imagem se torna mais forte do que a memória, acabando por substituí-la.” in “Metáforas do Sentir Fotográfico” de Maria do Carmo Serén

    A memória é um magnífico “parque de diversões”. As lembranças aparentam ser verdades inalienáveis para os seus donos, mas serão sempre questionáveis para todas as outras pessoas. As memórias usadas (ou criadas) como recurso artístico, não se desviam deste aparente paradoxo. A ambiguidade e potencial imagético das memórias dá-lhes um forte poder inspirativo. 

    Em Roma a memória do passado impõe-se de uma forma majestática. O cariz cosmopolita da cidade convive harmoniosamente com o que, apesar de já não “existir”, teima em sobreviver. O presente de hoje não resistirá como este presente de há mais de dois milénios, pelo menos não neste estado físico, presencial, palpável. O nosso presente é mais volátil, por vezes parece existir não para ser apreciado mas para ser registado e visto mais tarde. É um involuntário (embora consciente) mecanismo de criação de falsas memórias.

    A capital do que foi o colossal Império Romano tem uma inerente energia instigadora da criação. É claro que essa energia tem o seu “quê” de perverso: a criação de impérios de tamanha dimensão acarreta o sofrimento de muitos, normalmente, da “força construtora”.

    As lembranças que lá me foram suscitadas não são de cariz pessoal. Aliás, uma das premissas (senão a principal) para desenvolver um trabalho que se centrasse na memória enquanto temática, era a de que as memórias abordadas não fossem pessoais.

    As “memórias” deste trabalho são de um tempo que ainda não chegou, sobre um presente de existência duvidosa com imagens de um passado persistente.

    Partindo do pressuposto que a fotografia pode ser vista como uma “máquina de medir o tempo”, as imagens deste trabalho servem de “leitmotifs” para a realização de buscas “fast forward” e “fast rewind” no “mecanismo” cerebral. No entanto, a medição do tempo baralha-se. As referências dadas são contraditórias.

    No “Metáforas do Sentir Fotográfico” (acima citado), Maria do Carmo Serén escreve que “...a Fotografia mostra que o tempo passa, ... insinua o que foi destruído,... insinua o que se perdeu”. Esta vertente da Fotografia não é, por defeito, negativista ou uma forma de apontar o dedo em jeito de crítica. Esta é uma afirmação que interpreto desta forma:

    O que se perdeu é um óptimo mote para a criação de algo novo.

    13 Impressões jacto tinta em papel de algodão, montadas em pvc de 3mm dentro de moldura de madeira e organza dourada (em substituição do vidro) | 75x60cm | Edição 3+PA

    ---

    My Old Place

    “... (photography) is felt as an evocation of an instant past, a present in which the image becomes stronger then memory, and eventually replacing it .” in “Metáforas do Sentir Fotográfico” by Maria do Carmo Serén

    Memory is a wonderful playground. Remembrances seem to be inalienable truths to their rightful owners, but they will always be questionable by everybody else. Memories used as (or created as) an artistic resource, do not escape from this apparent paradox. The ambiguity and imagetic potential of memories gives them a strong inspirational power.

    In Rome, the memory of the past imposes itself in a majestic way. The cosmopolitan aspect of the city coexists harmoniously with aspects that, despite considered to be “dead”, still insist in “surviving”. Today’s present won’t resist like this present with more then two millenniums, at least not in this physical, tangible state. Our present is more volatile. Sometimes it seems to exist not for appreciation but to be registered and seen later. It is an involuntary (although conscious) mechanism for creating false memories.

    The capital of what was previously known as the “Roman Empire” is a place with an inherent energy, an instigator of creation. It is clear that this energy as some perversity related to it: the creation of such empires implied the suffering of a large number of people, normally the constructive force.

    The memories that Rome “caused” me were not personal memories. As a matter of fact, one of my premises (if not the main one) for this body of work, was that none of the memories should be personal.

    These memories are from a time that is still to come, about a present with a doubtful existence, filled with images from a persistent past.

    Presupposing that photography can be seen as a “machine to measure time”, these images can be interpreted as leitmotifs for the realization of fast forward / fast rewind searches in the cerebral mechanism. However, the “gauging” of time is not immediate. The given references are contradictory.

    In “Metáforas do Sentir Fotográfico” (quoted above), Maria do Carmo Serén states that: “(…) Photography shows that time passes, ... insinuates what has been destroyed, ... insinuates what has been lost”. This aspect of Photography is not, by defect, negative or understood in a critical view. My interpretation of this quote is:

    What has been lost is an optimum motto for the creation of something new.

    13 Inkjet prints on cotton paper, mounted on pvc 3mm inside a wooden frame with golden organza (instead of glass) | 75x60cm | Edition 3+AP