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  1. ‘A Ideia de Álvaro Siza - Piscina das Marés’ por Mark Durden & João Leal

    Exposição no MIRA FORUM || 11/02 – 25/03 || 2023

    Fotografar a Arquitetura de Álvaro Siza

    A arquitetura, em particular a arquitetura modernista mais tardia, sendo suscetível à decadência e à erosão, está fisicamente a mudar. As nossas fotografias da Piscina das Marés de Álvaro Siza foram feitas ao longo de cinco anos. Era importante que pudéssemos mostrar tanto o processo de restauração e alteração a que a obra foi sujeita nos últimos anos, quanto a relação entre os materiais utilizados e o magnífico cenário natural, em cons- tante mudança, onde as estruturas se inserem.

    Temos desenvolvido trabalho em resposta à arquitetura de Siza desde 2017 e o que mostramos nesta exposição resultará no terceiro volume ‘Scopio Newspaper’ que produzimos sobre o seu trabalho (a sair em junho de 2023)1.
    Não somos arquitetos e chegamos relativamente tarde ao mundo da arquitetura. A nossa abordagem é feita enquanto artistas e colaboramos a partir da dupla perspetiva das nossas práticas artísticas pessoais. A colaboração tem especial pertinência neste contexto. A experiência da arquitetura é rica, multidimensional, multissensorial e duas pessoas a trabalhar em conjunto são melhores do que uma ao tentar fotografar a experiência arquitetónica.
    As fotografias que John Szarkowski fez à arquitetura de Louis Sullivan têm uma particular influência no nosso trabalho, ao pon- to de adaptarmos para este projeto o título do livro de 1956 de Szarkowski: The Idea of Louis Sullivan. Szarkowski afirmou que estava interessado tanto nos ‘life facts’ como nos ‘art facts’ das obras de arquitetura. Esta questão foi incorporada na sua abordagem, ao enquadrar deliberadamente a arquitetura de Sullivan com a vida das ruas que a envolvem.

    Szarkowski apresenta três ou quatro fotografias a preto e branco de cada edifício. Nós apresentamos mais, e são imagens a cores e duracionais. Esta relação duracional com a arquitetura é importante numa época e cultura de excesso de imagens, velocidade e transitoriedade.

    O tempo é central para a fotografia. A fotografia é do momento, do instante, e nas nossas imagens estamos conscientes dessa condição, que transparece nas sombras que se projetam nas estruturas e na nossa perceção de como a aparência das obras é mutável sob diferentes luzes e em diferentes épocas. As imagens desta exposição (e da subsequente publicação) enfatizam as imensas mudanças que se podem observar quando a construção é olhada num dia enublado ou num dia de sol ou quando as marés e o constante movimento da água a envolve.

    Com o tempo, todas as fotografias ganham interesse como documentos. A arquitetura também muda com o tempo, mas os edifícios são (normalmente) mais duradouros do que as fotografias. Dito isto, quando John Szarkowski estava a fotografar os edifícios de Louis Sullivan no início da década de 50 do século XX, vários estavam num estado muito negligenciado e alguns foram depois demolidos, pelo que só as fotografias permanecem.

    Um dos aspetos que nos interessa na arquitetura de Sullivan diz res- peito ao seu uso da ornamentação e como este foi visto como não se encaixando numa narrativa modernista inspirada e alinhada com a sua própria afirmação de que a ‘forma segue a função’. Foi Frank Lloyd Wright (que trabalhou para Sullivan) quem defendeu a orna- mentação no trabalho de Sullivan e aludiu ao seu estilo poético lírico.

    Uma das nossas simples descobertas ao fotografar a arquitetura de Siza, é a forma como as estruturas modernistas nunca estão em branco. A parede branca é animada por sombras projetadas, superfícies brutalistas deterio- ram-se e ficam desgastadas de uma forma belíssima. Ao nosso olhar, isto transforma-se numa espécie de ornamentação.

    A arquitetura pode ser trazida para o mundo contingente através da forma como se mostra o seu contexto e, como no caso de algumas fotografias de Szarkowski, através da relação que estabelece com a rua e com as pessoas que utilizam os edifícios. Este contexto encerra a arquitetura num determinado tempo e contraria um desejo de a idealizar e separar do mundo real. Por muito que possamos mostrar as construções enquadrada no seu contexto, ainda pensamos que, na nossa fotografia, existe alguma reverência, e um reconhecimento de que há algo de sublime e transcendente na nossa experiência da arquitetura. Isto tem muito a ver com a sua forma e com a experiência da forma para lá da função.

    1 Os primeiros volumes desta série, publicados em 2020, foram fotografados em resposta ao Museu de Serralves, ao Pavilhão Carlos Ramos, à Faculdade de Arquitetura do Porto e ao complexo de habitação social da Bouça. O projeto está agora a expandir-se de forma a incluir obras de outros arquitetos. Em 2023, para além da publicação sobre a Piscina das Marés, serão lançadas mais duas: sobre o túmulo da família Brion de Carlo Scarpa, em San Vito d’Altivole e o Cemitério de San Cataldo de Aldo Rossi, em Modena, ambas em Itália.

    Liverpool (UK) / Porto (PT) | January 2023

    Mark Durden & João Leal

    Pela realização desta exposição, os autores gostariam de agradecer: à Universidade de South Wales, Escola Superior de Media, Artes e Design do Politécnico do Porto, Casa da Arquitetura, Matosinhos Sport, Álvaro Siza, MIRA FORUM, Manuela Matos Monteiro e João Lafuente, Pedro Leão Neto, Né Santelmo, Abigail Ascenso, André Leal Alves, Teresa Cunha Ferreira, Peter Finnemore, Tom Wood, Cesário Alves e Inês Magalhães.

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    ‘The Idea of Álvaro Siza - Ocean Swimming Pool’ by Mark Durden and João Leal

    MIRA FORUM exhibition || 11/02 – 25/03 || 2023

    Picturing Siza's Architecture

    Architecture, and late modernist architecture especially, is physically changing and susceptible to decay and erosion. Our photographs of Álvaro Siza’s Ocean Swimming Pool span five years. It was important we showed both the process of restoration and change as well as the relationship between the materials used and the structures’ magnificent and ever-changing natural setting.

    We have been making work in response to Siza’s architecture since 2017 and this exhibition will be followed by our third Scopio publication on Siza in June 2023.[1] We were not trained as architects and we both have come relatively late to the world of architecture— we approach it as artists and collaborate from the dual perspective of our own very distinct artistic practices. Collaboration makes a lot of sense. Architectural experience is rich, multi-dimensional, multi-sensorial and two people working together are much better than one in seeking to photograph the architectural experience.

    John Szarkowski’s photographs of Louis Sullivan’s architecture mark a particular influence and we have adapted the title of Szarkowski’s 1956 book, The Idea of Louis Sullivan for this project. Szarkowski stated he was interested in architecture’s “life facts” as well as its “art facts” and this was borne out in his approach, deliberately framing Sullivan’s architecture in relation to life on the street.

    Szarkowski presents three or four black and white photographs of one building— we have many more and our pictures are in colour and durational. This long-form temporal relationship to architecture is important in an age and culture of image glut, speed and transience.

    Time is central to photography. Photography is of the moment and instant, and in our pictures we are very much aware of this through the shadows that play over the structures and our sense of how the architecture’s appearance is always changing during different light and different seasons. The pictures for this publication accent both the dramatic shifts in effect between overcast and bright sunlit days on Siza’s architecture and the constant tidal movement of the waters.

    All photographs become interesting as documents in time. Of course, architecture changes in time too, but buildings are (usually) more permanent than photographs. That said when John Szarkowski was photographing Louis Sullivan’s buildings in the early 1950s many were in states of disrepair and quite a few were subsequently demolished, so only the photographs remain.

    One of the issues that interests us about Sullivan’s architecture concerns his use of ornamentation and how this was seen not to fit the modernist narrative integral to his statement “form follows function”. It was Frank Lloyd Wright who championed ornamentation in Sullivan and referred to his poetic lyrical style.

    One of our simple discoveries in picturing Siza’s architecture is the way in which modernist structures are never blank. The white wall is animated by cast shadows, brutalist surfaces decay and wear beautifully. And this becomes for us a kind of ornamentation.

    Architecture can be brought into the contingent world through showing its context, its relation to the street and the people who use the buildings in the case of some of Szarkowski’s photographs. This context locks the architecture in a particular time and counters a desire to idealise and separate it off from the lived world. Much as we may show architecture in context, we still think there is a certain reverence in our photography and a recognition that there is something sublime and transcendent in our experience of architecture. This is very much to do with its form and the experience of form beyond function.

    [1] Our first two volumes in this series, published in 2020, responded to Siza’s Serralves Museum, The Carlos Ramos Pavilion, Porto School of Architecture and his Bouça Social Housing. The project is now expanding to include other architects and two further publications will follow in 2023 on Carlo Scarpa’s Tomba Brion, in San Vito d’Altivole, and Aldo Rossi’s San Cataldo Cemetery in Modena, both in Italy.

    Liverpool (UK) / Porto (PT) | January 2023

    Mark Durden & João Leal

    The authors wish to thank the following for the realization of this exhibition: University of South Wales, School of Media, Arts and Design of
    the Polytechnic of Porto, Casa da Arquitetura, Matosinhos Sport, Álvaro Siza, MIRA FORUM, Manuela Matos Monteiro e João Lafuente, Pedro Leão Neto, Né Santelmo, Abigail Ascenso, André Leal Alves, Teresa Cunha Ferreira, Peter Finnemore, Tom Wood, Cesário Alves and Inês Magalhães.