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FARPADO1 || BARBED1
"At a burnt down 'house of democracy', barbed wire at the door" (free adaptation of a popular Portuguese proverb).
South Africa is a young democracy, 20 years younger than Portugal. Its first democratically elected president was sworn in on the 12th of May of 1994 at the National Assembly in Cape Town.
Cape Town is a city of contrasts: above and underwater beauty of nature, vast unmarked spaces and powerful African sunlight. The urban landscape can be harsh, terrible and dangerous.
It is a city of real-estate capital, urban areas carefully designated "upmarket" and "poor" areas. The geographical lines that separate these market value constructs are sometimes no bigger than a street. Sprawling townships near residential areas and prompt up new middle class developments cluster blocks. In many places across the sprawling urban landscape, we can see opulent three-story homes on large estates in raw proximity to poor and neglected settlements. These lavish estatesbelong in another era, a painful reminder of old injustice and an ever-growing wealth gap. The continuous demarcation of the economic zones that separate wealthy from poor is a national project in South Africa, and nowhere more evident than in Cape Town. There are still many South Africans who refuse to live in Cape Town because of its unchanged topography that reminds them too much of dark times.
On January 2nd, 2022, a violent fire broke out in Cape Town’s National Assembly. In July of the same year, a dense layer of barbed wire 'protected' the building. By July of the following year, this ‘protection’ layer remained.
Is this protection an act of condescension? When does a democracy reach adulthood and the confidence to defend itself from those who try to 'set it on fire', without needing fences (physical or 'sanitary')?
Text by Eran Tahor and joão leal
Porto / Cape Town, April 2024
BARBED1 is the first presentation for Extéril Gallery (Porto) of a work that has been in development since 2022, between Portugal and South Africa. It has the production support of Erasmus+ ICM (International Credit Mobility) and ESMAD | P.Porto.
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"Em ‘casa da democracia’ incendiada, arame farpado à porta" (adaptação livre de provérbio popular português)
A África do Sul é uma democracia jovem, 20 anos mais nova do que a portuguesa. O seu primeiro presidente democraticamente eleito tomou posse no dia 12 de maio de 1994, na Assembleia Nacional da Cidade do Cabo.
A Cidade do Cabo é uma cidade de contrastes: uma beleza natural acima e abaixo do nível da água, vastos espaços sem limites visíveis e uma poderosa luz solar africana. No entanto, a paisagem urbana pode ser dura e perigosa.
É uma cidade de capital imobiliário, com zonas urbanas cuidadosamente designadas como zonas "de luxo" e zonas “pobres". As linhas geográficas que separam estas construções, por vezes, não são maiores do que uma rua. Há extensos bairros com poucas condições de habitabilidade (conhecidos por ‘townships’) perto de zonas residenciais e novos empreendimentos da classe média. Em muitos locais da extensa paisagem urbana, podemos ver casas opulentas de três andares em grandes propriedades, na proximidade de povoações pobres e negligenciadas. Estas luxuosas propriedades pertencem a outra era, uma recordação dolorosa de velhas injustiças e de um fosso de riqueza cada vez maior. A demarcação contínua das zonas económicas que separam os ricos dos pobres é um projeto nacional na África do Sul, e em nenhum outro lugar é mais evidente do que na Cidade do Cabo. Ainda há muitos sul-africanos que se recusam a viver na Cidade do Cabo devido à sua topografia inalterada que lhes traz demasiadas recordações de tempos sombrios.
No dia 02 de janeiro de 2022, um violento incêndio deflagrou na emblemática Assembleia Nacional desta cidade. Em julho do mesmo ano, uma densa camada de arame farpado ‘protegia’ o edifício. Em julho do ano seguinte, essa ‘camada’ permanecia.
Será esta proteção um ato de condescendência? Quando é que uma democracia atinge a maioridade e passa a conseguir defender-se de quem a tenta ‘incendiar’, sem a necessidade de cercas (físicas ou ‘sanitárias’)?
Texto de Eran Tahor e joão leal
Porto / Cidade do Cabo, abril 2024
FARPADO1 é a primeira apresentação para a Galeria Extéril (Porto) de um trabalho que está em desenvolvimento desde 2022, entre Portugal e a África do Sul. Conta com o apoio à produção do programa Erasmus+ ICM (International Credit Mobility) e da ESMAD | P. Porto.